*Pearl_Jam_Black

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Penso e não escrevo

Não consigo escrever nada
Que me tire este fatal vazio
A noite surge tão encantada
Por ver cessar meu pensamento esguio.

Visto meu casaco de cetim encarnado
E parto para gritar na rua.
Solto os cabelos que acompanham este fado
Descubro que a lua é minha e não tua.

Peço para o vento parar de soprar
Saboreio o momento sem turbilhão
E é por tentar tantas vezes me alcançar
Que fico perdida no meio da escuridão.

Eis que surge por entre o meu rastilho
A luz que dita que caminharei para um novo dia
Sonho com o ano em que o mundo terá um filho
Que seja melhor que eu e capaz de estabelecer a harmonia.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Ouço ou calo-me

Ouço vozes na rua. Sim, eu ouço vozes na rua. Elas berram silenciosamente. E eu quero tanto senti-las! Gosto de me sentir só e gosto de sentir que não sou a única a falar em vão. Desejo ser incompreendida sempre que percebo que não consigo compreender os outros.
Continuo a escutar as vossas vozes. Vozes estranhas que não desconheço na totalidade. São vozes que dizem que não devo parar para as tentar perceber. Elas misturam-se, conciliam-se, cruzam-se numa ligação desligada. Falam e não sabem o que dizem. Não merecem a minha valorização. Quero gritar no ínfimo vazio sem ouvir eco. Quero cantar, bailar e gritar (não necessariamente por esta ordem tão aleatória) num mundo igual em que só eu represente a pluralidade. Façam-me sentir intrusa, alienada até num planeta em que a diferença é o veneno social. Gritem ao meu ouvido para conseguir adormecer... Calem-se, que o silêncio acorda-me! No mundo dos sonhos sou feliz, sou feliz e sou feliz, e penso na utopia tão real, aquela em que só eu consigo tocar. Só eu! Ah! E tenho acrescentar algo que, no meu cérebro inflamado, penso que ficou por dizer: sou feliz!
É tão boa esta exclusividade! Fatal, diria eu... Quando acordar, sei que finalmente vou ser o que nunca havia sido outrora. Sabem o quê? Prefiro que tentem adivinhar... Sei disso, por me inserirem nesta realidade tão virtual aos meus olhos que é viver convosco! Esta vida que me faz sentir uma máquina onde não tenho de gastar o meu cérebro a pensar. Só ser manipulada. Isso era tão bom se eu não quisesse ser alguém... Alguém no mundo do Ninguém...
Não pertenço a este mundo. Só ao meu... Onde serei... Vou tentar lembrar-me e depois digo-vos...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

P*** de realidade

Falas em discriminação
Quando cagas merda do teu coração.
A pura verdade não faz sentido
Nesta sociedade em que defeito dá prisão.

Não consegues ser singular,
As bocas cínicas fazem-te calar
Num mundo da contra facção
O que conta é produzir e agradar.

Corta, esmaga, destrói, tritura, mata!
Come-me!
É essa a vida de quem é alguém
Mas deixa-me ser eu mesma
Fodendo as cópias que se contam infinitamente de cem em cem!

E porque não aqui dizer:
És igual aos demais, vai-te foder!
Quantos são os dias que chego a casa
Depois de vos ouvir a contar
Que o bófia vomitou no guna
Durante a época nocturna
Onde só vos interessa novidade
E temas em comum
Falar de algo em paralelo
Será um gajo, um merdas, um...

Corta, esmaga, destrói, tritura, mata!
Come-me!
É essa a vida de quem é alguém
Mas deixa-me ser eu mesma
Fodendo as cópias que se contam infinitamente de cem em cem!

Chegou o tempo de antena
O pai-natal foi ao cu à rena
Que momento! Que notícia!
Meus anormais espectadores,
Há que seguir as novidades com perícia
É que lamento informar-vos,
Mas esse gajo não existe...
Não dêem credibilidade aos contos
Só porque alguém vos disse.
Há que abrir os olhos e acertar os pontos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

"Jornada para (sei lá"!)"

Conto os degraus até chegar onde ambiciono…Sim, conto um por um…E já vou no centésimo, e transpiro, cuspo vozes malévolas…Quanto mais olho, menos alcanço…E, finalmente, descubro algo novo: a miragem! Sim, eis que a esperança se apodera de mim! Não! É só a ilusão de alcançar o topo, e o caminho a percorrer ainda é longo…
Sei agora qual o meu erro: caminho e olho para trás…deslizo por entre os degraus e falo de cada pegada com intranquilidade…quero conquistar o mundo sem dor, quero ser feliz sem batalhar…falo desta jornada incessante, sem aceitar o facto de a estrada para o céu ter portagens…estática em meus pensamentos orgulhosos, gulosos até, esqueço-me de tirar o bilhete…caio assim de novo no reino ao qual sempre pertenci e que nunca irei abandonar, pois o comodismo apodera-se da minha pessoa e não quero arriscar de novo algo que julgo não ser capaz…
Porque somos humanos e não espirituais? Porquê acreditarmos que há alguém superior a nós quando a superioridade está no nosso eu ? Vou hoje mesmo criar uma religião só minha, uma religião cujo único fiel que possui sou eu, onde os mandamentos são arbitrários e onde eu voo sem pensar que a cada barreira alguém me espera e me tenta empurrar…

"Identidade de outrem"

Sou quem não se encontrou
Sou alguém sem paradeiro
Uma pequena sombra do vasto nevoeiro
Que no céu lugar procurou.

Sou quem não quer ser
Sou uma miragem a mim própria
Da utopia de alguém que me apropria.
Existo e ninguém me quer ver.

Para quê desejar tanto existir,
Se existindo, nada nos quer sentir?
É melhor continuar no imaginário.

Quero de meu corpo sair,
Embora apenas a alma possuir.
Meu nome ficou esquecido no inventário...

"Nada para além do meu ser"

Olho-vos com uma cegueira tão cansada
Vocês, que dizem que não vejo, mas escuto!
Quebraram meu silêncio e meus sentidos
E eu acabei por vos tocar,nua e de luto.

Paranóia a vossa ao dizer que imagino!
Não é verdade! Agora não é mais...
Ontem estive eufórica, hoje não estou...
Amanhã serei da tristeza apenas sinais.

Penso seriamente ser o vosso reflexo
O que hoje sou, não serei mais anteontem,
Porque o meu tempo é um total paradigma
E não deixo que os ponteiros por mim contem...

Quem disse que meu egocentrismo me pertence?!
Sou apenas proprietária de meu coração
Responsabilidade que me foi atribuída por "Deus",
Esse que ninguém viu, mas que merece "a oração".

Se eu não sou nada neste mundo,
Para quê me serem atribuídas as culpas?
O ser superior e "justo" que me criou
É que me manipulou e nem pediu desculpas.

"Complexidades de um simples universo"

Versos soltos nos quais escrevo
Toda a minha filosofia morta.
Rima por rima me vou apagando:
É esta a poesia que me suporta.

Não tenho céu nem tenho chão:
Tenho uma plataforma de desilusões.
Meus pés descalços estão gelados,
Minha cabeça já não penetra emoções.

Quero o sol e quero a lua...
Quero tudo aquilo que não existe.
Querer o impossível e nada obter
É meu destino factual e triste.

Planeta paradoxal no qual habito,
Repleto de pedras e mar e gente...
Sou alienígena naquilo em que me vejo
Tudo me olha, mas ninguém me sente.

Talvez numa outra realidade, verosímil dimensão
Eu me vá sentir o que sempre julguei merecer
Sou alguém que de tantos mundos procurar,
Julga só a sua alma anónima querer...